Estudo divulgado pelo Instituto Data Popular ainda revela 75% dos moradores dessas regiões acreditam que quem vive em favela sofre preconceito
Quase a metade dos jovens que vivem em favelas
evita dizer o local onde mora ao frequentar espaços fora de suas
comunidades, segundo pesquisa sobre aspectos econômicos e sociais das
favelas brasileiras, divulgada nesta quarta-feira (20) pelo Instituto
Data Popular, em parceria com a Central Única de Favelas. O estudo
aponta que 49% dos entrevistados preferem não revelar que moram em
favelas por medo de sofrer preconceito e que 75% acreditam que quem vive
em favela sofre preconceito.
Arquivo US
Para o empresário Thomas Rabe, que tem lojas
de venda de passagens aéreas instaladas apenas em favelas, os moradores
de locais pobres enfrentam vários obstáculos. “A autoestima nesse mundo é
muito baixa, porque é um povo castigado. Até poucos anos atrás, mais ou
menos 40% dessas pessoas (das classes C, D e E) que entravam em um
magazine para comprar um eletrodoméstico ou um móvel recebia um não,
porque não tinham crédito ou comprovante de renda”, comentou.
Apesar das dificuldades e do preconceito, o estudo
identificou que 85% dos entrevistados estão satisfeitos com o lugar onde
moram e 70% afirmam que continuariam a morar na favela mesmo se
dobrassem a renda.
A pesquisa ouviu 500 jovens entre 15 e 25 anos de cinco
favelas do Rio: Rocinha, Chatuba, Baixada Fluminense, Salgueiro e Cidade
de Deus. Para o coordenador da pesquisa, Renato Meirelles, com a
melhora efetiva da renda, da escolaridade e do processo de pacificação, o
preconceito vem diminuindo gradualmente, sobretudo entre os
empresários. “Existe uma oportunidade que não tem nada a ver com
terceiro setor, com ser legal, tem a ver com oportunidade de negócios,
tem a ver com um mercado de R$ 56 bilhões de reais [por ano] e 12
milhões de consumidores”, disse ele.
O coordenador da pesquisa informou que o instituto e a
Central das Favelas estão elaborando um mapa nacional sobre o consumo em
favelas, nas nove maiores regiões metropolitanas do país. O mapa vai
ajudar empresas a desenvolverem estratégias de negócios dentro das
favelas, deixando como contrapartida a capacitação dos moradores em
pesquisas de mercado. “A ideia é que na segunda quinzena de março a
gente comece com o processo de capacitação dos moradores e que a
pesquisa seja lançada no começo de agosto”, disse Renato Meirelles.
Dos jovens cariocas moradores de favelas, 90% acessam a
internet, 70% navegam todos os dias e mais de 33% usam a rede dentro de
casa. Cerca de 52% desses jovens são mulheres, 25% delas mães solteiras e
3% são analfabetos. Aproximadamente 70% dos maiores de idade são
economicamente ativos e o salário médio dos que trabalham é R$ 690.
Entre os jovens acima de 18 anos, 85% contribuem com a
renda da casa e 28% são a principal fonte de renda da casa. Ainda
segundo o estudo, o desejo de cursar o ensino superior predomina sobre a
vontade de ter emprego. Cerca de 39% dos entrevistados apontaram a
faculdade como um sonho distante ou como perspectiva concreta. A
oportunidade de emprego é prioridade para 28% dos entrevistados.
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