segunda-feira, 25 de março de 2013

MAIS UM POEMA DO NOSSO CONTERRÂNEO E COLABORADOR DIEGO ROCHA


Ao Trairi
Por Diego Rocha
Aqui, nestas densas águas escuras em sal
Estão dissolvidas as lágrimas de minha avó
Quando perdera em tão pouca idade sua mãe
Que dera a luz a outro falecido anjinho
 
A fome lhe fez comer xiquexique queimado
Pelo calor em brasas, cresceu à secura
Em solos calcinados na peleja de Deus e o Diabo
No meio do fogo, eis a humana criatura
 
O Sol é a joia de puro ouro rodeado de diamantes
Que cega a alma do caboclo ambicioso
Quando cai na tentação de rezar pela enxurrada
 
Cabras e cabritos se multiplicam na lentidão
Onde o carcará espera ainda a prosperidade no chão
Nos passos de vaqueiro, com a tristeza, fustigado
Que ao entardecer berra o choro de burrego rejeitado
 
Chegada a noite, invade o gélido ar desértico do grotão assombroso
 A estrada noturna fica iluminada por misteriosas estrelas
Que pulsam nas faiscantes cores da imensidão do universo
 
Escuro tal tarde chuvosa quando castiga o inverno
De nuvens pesadas de tantos pedidos lacrimosos de mau rezador
Quem na paisagem seca se afoga em enchentes do inferno
 
A religiosidade da gente faz ladainhas para tudo voltar ao de antes
Os açudes se retraem recolhendo as almas de infantes
Lágrimas das mães, lágrimas nos céus, enfim
 Águas salgadas que derramam no Rio Trairi.
 
fonte: Blog de Erivan Justino

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