Ao Trairi
Por Diego Rocha
Aqui,
nestas densas águas escuras em sal
Estão
dissolvidas as lágrimas de minha avó
Quando
perdera em tão pouca idade sua mãe
Que
dera a luz a outro falecido anjinho
A
fome lhe fez comer xiquexique queimado
Pelo
calor em brasas, cresceu à secura
Em
solos calcinados na peleja de Deus e o Diabo
No
meio do fogo, eis a humana criatura
O
Sol é a joia de puro ouro rodeado de diamantes
Que
cega a alma do caboclo ambicioso
Quando
cai na tentação de rezar pela enxurrada
Cabras
e cabritos se multiplicam na lentidão
Onde
o carcará espera ainda a prosperidade no chão
Nos
passos de vaqueiro, com a tristeza, fustigado
Que
ao entardecer berra o choro de burrego rejeitado
Chegada
a noite, invade o gélido ar desértico do grotão assombroso
A estrada noturna fica iluminada por
misteriosas estrelas
Que
pulsam nas faiscantes cores da imensidão do universo
Escuro
tal tarde chuvosa quando castiga o inverno
De
nuvens pesadas de tantos pedidos lacrimosos de mau rezador
Quem
na paisagem seca se afoga em enchentes do inferno
A
religiosidade da gente faz ladainhas para tudo voltar ao de antes
Os
açudes se retraem recolhendo as almas de infantes
Lágrimas
das mães, lágrimas nos céus, enfim
Águas salgadas que derramam no Rio Trairi.
fonte: Blog de Erivan Justino
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