quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O discurso de Martin Luther King completa 50 anos Há 50 anos, Martin Luther King discursou para 250 mil pessoas em Washington, nos Estados Unidos

O discurso de Martin Luther King completa 50 anos

Há 50 anos, Martin Luther King discursou para 250 mil pessoas em Washington, nos Estados Unidos. Subiu os degraus do Memorial Lincoln como líder negro. Desceu como líder universal

MARCELO MOURA
1963 Martin Luther King, diante de 250 mil pessoas, prestes a fazer história (Foto: Hulton Archive/Getty Images)
Martin Luther King Jr. não sabia o que diria no dia seguinte, 28 de agosto de 1963. Seu discurso seria parte da Marcha em Washington por Trabalho e Liberdade, campanha do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, pela aprovação do projeto de Lei de Direitos Civis. Não poderia ter, portanto, o tom inflamado de outras manifestações suas – como o boicote que liderou, em 1955, depois de Rosa Parks, uma negra, ser presa no Alabama por se recusar a ceder o lugar no ônibus a um branco. Luther King falaria para 250 mil pessoas sobre os 100 anos do fim da escravidão no país, num lugar especialmente adequado: o Memorial Lincoln, monumento em homenagem ao presidente que assinara a Lei de Abolição. Faltava o que dizer. Lido em voz alta, o rascunho do texto, chamado “Discurso da Normalidade”, não empolgava. Presente ao ensaio, Mahalia Jackson, uma cantora gospel, sugeriu: “Fale de seus sonhos”.

“Eu tenho um sonho...” é um dos mais poderosos discursos da história. “Eu tenho um sonho de que meus quatro filhos pequenos um dia viverão numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteú­do de seu caráter”, disse. Seu assunto principal não é o negro, palavra repetida 15 vezes. É a liberdade, repetida 20 vezes. Em 17 minutos de oratória, Luther King alçou-se de líder negro a líder tão somente. Transformou a causa de uma minoria, e de todas as minorias, numa causa universal.

Com a Lei de Direitos Civis, aprovada nos Estados Unidos em 1964, negros em todo o país puderam ocupar espaços públicos e escolas em igualdade com os brancos. Em 1965, conquistaram os mesmos direitos eleitorais. Luther King recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1964. No mesmo ano, o Comitê Olímpico Internacional baniu de seus torneios a África do Sul, país onde a minoria branca segregava a maioria negra, por meio do regime do apartheid. O assassinato de Luther King, em 1968, num hotel em Memphis, não calou sua voz. Regimes de segregação racial foram banidos no mundo inteiro. Ideias defendidas por ele, como bolsas e cotas para minorias, passaram a ser adotadas em países como o Brasil. Hoje, negros dirigem multinacionais como a Xerox e o McDonald’s. Um negro preside a mais alta corte da Justiça no Brasil. Um negro é presidente dos EUA. No dia 28, Ba­rack Obama fará um discurso em homenagem a Luther King. Será um momento simbólico. Obama já fez a mais sanguínea reflexão sobre as conquistas do negro nos Estados Unidos, em 19 de julho, após a absolvição de um vigilante branco que matara um jovem negro desarmado. “Pouquíssimos negros nos Estados Unidos não passaram pela situação de ser vigiados quando faziam compras numa loja de departamentos. Isso inclui a mim”, disse Obama. “Provavelmente, pouquíssimos negros não passaram pela situação de atravessar a rua e ouvir as portas dos carros ser trancadas. Isso já me aconteceu.” O mundo mudou muito, 50 anos após o discurso em 28 de agosto. O sonho de Luther King não parece mais uma utopia. Mas permanece um sonho.
1954 Nathaniel Steward na escola Saint-Dominique. Pela primeira vez em Washington, negros e brancos podiam estudar juntos (Foto: Keystone)
 
1963 Negros e brancos  de mãos dadas,  na Marcha por Trabalho e Liberdade (Foto:  AFP)
 
1957 Elizabeth Eckford e Carlotta Walls, beneficiárias do regime de cotas adotado no Arkansas pela Universidade Rock Central (Foto: George Tames/The New York Times)
 
1964 Luther King recebe o Prêmio Nobel da Paz aos 35 anos. Sua luta pela igualdade de direitos tornara-se universal (Foto: Donald Uhrbrock/Time Life/Getty Images)
 
1968 Tommie Smith e John Carlos fazem a saudação do movimento Black Power, com uma luva negra, nos Jogos do México (Foto: Paul Schutzer/Time & Life Pictures/Getty Images)
 
1968 Uma mulher chora no velório de Luther King.  Ele dá nome  a escolas, avenidas e monumentos  no mundo inteiro (Foto: Keystone/Getty Images)
 

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