De todos os animais que existem no mundo, apenas os humanos conseguem
produzir lágrimas emocionais e chorar mesmo quando já são adultos.
Há relatos de animais que apresentam padrões de comportamento parecidos
com o choro - um filhote de pássaro, por exemplo, emite sons chorosos
ao se separar da mãe. Só que animais não soltam lágrimas, e o
comportamento deixa de existir após a infância.
Já em humanos, chorar faz parte da vida. Enquanto na maioria das vezes,
as crianças choram com mais frequência, emitindo sonoros gritos e
lamentos, os adultos bastam-se apenas com as lágrimas.
Outra diferença entre o choro de crianças e adultos é que os pequenos
choram, na maioria das vezes, por razões egocêntricas - necessidades de
chamar atenção para um problema que está acontecendo com elas, como se
dissessem através do 'berreiro' frases como "minha fralda está suja",
"estou com fome", ou "quero ganhar este brinquedo".
Nos adultos, o choro pode acontecer não só por razões egocêntricas,
como também por empatia a situações externas. Ao assistir a um filme,
por exemplo, o adulto experimenta as mesmas emoções que os outros, mesmo
que esses outros sejam personagens da ficção.
A empatia é uma capacidade intrínseca ao ser humano de se identificar
com as outras pessoas. Ainda não existe um consenso entre estudiosos do
assunto, mas há a hipótese de que existe uma relação entre chorar e a
evolução natural: nossas lágrimas podem ter facilitado o desenvolvimento
de sentimentos empáticos e contribuído para que nós nos tornássemos uma
espécie ultrassociável.
Chorar alivia?
Será que chorar pode trazer algum tipo de paz de espírito ou alívio do
stress? Os cientistas não sabem ao certo, mas já apontam pistas de que
nem sempre é assim. Depende de basicamente duas coisas: por qual motivo a
pessoa está chorando e como outras pessoas reagiram a esse choro.
É possível que o choro estimule o sistema nervoso parassimpático, e
libere substâncias responsáveis por reduzir o estresse e a ansiedade,
como a oxitocina. Só que isso é apenas especulação. Não se sabe muito
sobre as características fisiológicas do cérebro no momento do choro - é
um quebra-cabeça difícil de montar, já que pouco foi descoberto sobre
os complexos mecanismos desse órgão.
O choro pode ser cultural
A cultura pode ter uma relação direta nas razões do choro, na
frequência dele e nos seus efeitos. Também pode definir o comportamento
de reação de terceiros.
Por exemplo: sociedades que vivem em países frios tendem a chorar mais do que as que estão em regiões mais quentes.
Mesmo que na maioria das vezes, humanos chorem para pedir ajuda,
conforto ou reduzir algum tipo de agressão, em algumas sociedades, os
adultos não costumam chorar em frente a pessoas desconhecidas - isso
pode sugerir que a pessoa é fraca, emocionalmente instável ou até mesmo
manipuladora.
Além disso, nessas sociedades, pessoas que veem alguém desconhecido
chorar ficam desconcertadas e raramente sentem-se à vontade para
ajudá-la. É por isso que, talvez, o choro de adultos seja tão contido,
reservado e só para íntimos.
Consultoria: A.J.J.M. Vingerhoets, professor da Universidade Tilburg, da Holanda, e autor do livro Why only humans weep. Unravelling the mysteries of tears;
e prof. doutora Denise Pará Diniz, psicóloga-coordenadora do Setor de
Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo)