quinta-feira, 11 de julho de 2013

Caso BBom: 'Se soubesse, tinha usado o modelo antes', afirma proprietário

Empresário nega pirâmide e diz que taxas de adesão são usadas para pagar fornecedores

Vitor Sorano - iG São Paulo | - Atualizada às
Divulgação
João Francisco de Paulo, proprietário da BBom
A BBom é considerada pelo Ministério Público Federal em Goiás como o tapume para a construção de uma pirâmide financeira que, em menos de seis meses, angariou irregularmente 300 mil investidores e ajudou um grupo a amealhar R$ 300 milhões – fora uma centena de carros, inclusive duas Ferraris, quatro Lamborghinis e um Rolls Royce.
Dono da marca BBom, João Francisco de Paulo diz ao iG também ter ficado surpreso com o sucesso do negócio. Mas ele faz questão de qualificar a empresa como um sistema de marketing multinível perfeitamente legal. A estratégia de varejo, conta, foi a escolhida para turbinar as vendas dos serviços de monitoramento e rastreamento que sua Embrasystem fornece há cinco anos. A Embrasystem não é fabricante. Os equipamentos são adquiridos de outras empresas – uma brasileira e outra americana.
"Foi muito maior do que a gente imaginava e também nos assustou. E por isso nós temos hoje 1,5 milhão de equipamentos [ vendidos ]", diz ele, com o argumento de que usa as taxas de adesão pagas pelos associados para comprar, junto aos fornecedores, mais produtos para comercializar. "Seria, sim, criminoso se eu estivesse recebendo [ taxas de adesão ] das pessoas e não comprasse equipamentos."
Nesta entrevista, concedida na quarta-feira (10) horas depois de a 4ª Vara Federal de Goiás anunciar o bloqueio de seus bens e os da Embrasystem , Paulo acusa pessoas "mal intencionadas" de plantarem informações falsas contra a empresa. Isso, argumenta, é que motivou promotores, procuradores da República e, liminarmente, a Justiça, a colocarem a Embrasystem, ao lado da Telexfree , no alvo de uma força-tafera que investiga ao menos outros 11 negócios suspeitos de serem pirâmides financeiras.
"Eu sei quem foi", diz, com a promessa de revelar os nomes no futuro. "Mas acho que o Ministério Público e a Justiça estão corretíssimos [ em investigar ] pois vão separar o joio do trigo", afirma. 
O empresário também nega que a Embrasystem tenha relações com a Telexfree e também recusa a informação de que já foi processado por crimes financeiros. Leia abaixo trechos da entrevista.

O MInistério Público Federal no Acre e o Ministério Público daquele Estado afirmam que a Embrasystem [ dona da marca BBom ] e a BBrasil [ outra empresa do grupo ] são pirâmide financeira. De fato são e, se não, por quê?
O procurador [ da República ] não trabalhou nessa investigação. Ele trabalhou em cima de informações de pessoas mal intencionadas. Primeiro ponto: falaram que os nossos rastreadores não são homologados. Todos são homologados. Segundo, nossos equipamentos só usam chips da Tim, da Vivo e da Claro [ que são homologados ]. Terceiro, nós temos um 1,5 milhão de equipamentos [ de rastreamento ] adquiridos. Desse 1,5 milhão de equipamentos provém um faturamento de R$ 120 mihões por mês para a Unepxmil [ nome fantasia da Embrasystem pelo qual são comercializados os serviços de monitoramento e rastreamento ], que está se tornando a maior operadora de rastreamento do mundo. Com R$ 120 milhões eu pago durante quatro meses [ todos os cerca de 300 mil associados ]. Não é pirâmide financeira. Se a Justiça está imaginando que é pirâmide financeira, tem que começar a prender todo mundo, inclusive os banqueiros. Estamos na área de rastreamento há cinco anos, mas nossa empresa tem 17 anos no mercado. Todos os nossos prédios são próprios, temos mais de 700 funcionários, uma das bases mais modernas de monitoramento do País é a nossa. 
Mas o que o MPF argumenta é que, embora o equipamento seja homologado, a Embrasystem não teria autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para comercializar e operar esse tipo de equipamento.
Nenhuma [ empresa de monitoramento ] tem autorização para fazer isso. Não existe uma autorização específica da Anatel para fazer monitoramento. Nós não transmitimos dados, nós trabalhamos com informações transmitidas por operadoras [ de telefonia ]. Se eles pensarem dessa forma, vão ter de fechar todas as operadoras na área de rastreamento e vão criar um colapso aqui no Brasil.
O MPF diz que que a empresa movimentou R$ 300 mil no ano passado e R$ 100 milhões em março de 2013. Isso não é um aumento que levanta suspeita?
Não. Primeiro que não foram R$ 300 mil [ em 2012 ]. Hoje eu faturo R$ 2 milhões só em venda de franquia. O faturamento global da empresa foi muito além do que eles estão dizendo. Agora, que o marketing multinível me surpreendeu – e por isso que [ se ] está colocando em xeque –, surpreendeu. Nós lançamos o marketing multinível em fevereiro para alavancar [ a empresa ], porque eu precisava de comodatar [ fornecer a franqueados para que façam a instalação de ] equipamentos. Empresas estrangeiras estavam chegando no Brasil e colocando equipamento comodatado de graça. Eu ia morrer.. As empresas começaram a modificar, colocar um plus , um seguro, um valor maior, diluir o valor dos equipamentos em 12 meses. E eu não tinha capacidade financeira para isso. Quando eu conheci o marketing multiível foi uma benção porque de repente eu consegui colocar um monte de equipamento para funcionar. Pois dava condições de comodatar  para as pessoas e hoje nós somos uma das únicas empresas que eu não cobro valor agregado na mensalidade. Faço o comodato sem custo nenhum, a não ser da instalação. [ O avanço nos negócios ] foi muito maior do que a gente imaginava e também nos assustou. E por isso nós temos hoje 1,5 milhão de equipamentos. Seria sim criminoso se eu estivesse recebendo das pessoas e não comprasse equipamentos para comodatar. Aí, sim, eu não ia ter caixa para pagar ninguém.
O senhor sabe quem são essas pessoas [ que supostamente acusaram a empresa ]?
Eu sei quem foi. São empresas que sonegam impostos, devem milhões para o governo, estão sendo acionadas e se uniram para fazer denúncias criminosas. E tem quem ouve. Mas acho que o Ministério Público e a Justiça estão corretíssimos pois vão separar o joio do trigo. O que eu vou falar, vou falar com propriedade. Eu vou falar o nome das empresas. 
Tanto na decisão que bloqueou os bens da Telexfree quanto na da BBom, a Justiça argumenta que o faturamento vem das taxas de adesão, e não da venda de equipamentos. Se a taxa causa tanto problema, por que a BBom cobra? E o que ela representa no faturamento da empresa?
Nós, brasileiros, estamos acostumados a ganhar R$ 5 mil, R$ 10 mil. Quando se ganha muito dinheiro, vira crime"
Eu uso dinheiro da taxa para comprar novos equipamentos. Para você ter uma ideia: eu vendi equipamento no ano passado por R$ 899 e comodatava  por R$ 450 cada equipamento. Às vezes eu dividia nas cinco primeiras parcelas o comodato dos equipamentos. Hoje eu uso a taxa para comprar equipamentos. Então eu pago comissionamento [ aos associados ] e com parte eu compro equipamento. Por que as empresas de marketing multinível cobram a taxa de adesão? Porque elas precisam se manter. É diferente de outras empresas em que você compra um produto superfaturado. Só de franquia a nossa previsão de faturamento é de R$ 100 milhões por mês. A nossa previsão é de 5 mil franquias até o fim do ano. Vendemos uma taxa de 10 a 20 franquias por dia. O problema é que nós, brasileiros, estamos acostumados a ganhar R$ 5 mil, R$ 10 mil por mês. Quando [ se ] ganha muito dinheiro, vira crime no Brasil.
Hoje os senhores têm quantas franquias?
Quase 2 mil. Nós somos a segunda maior franqueadora do País.
O senhor se arrepende de usar o marketing multinível?
Não me arrependo porque eu não desisto das pessoas, porque é um negócio legítimo, não é um negócio que busca só dinheiro para depois estourar lá na frente. Se eu tivesse tido consciência, eu já teria feito com marketing multinível no ano de 2008, quando comecei a mexer com rastreador. Quem enxergou isso antes foram banqueiros, usineiros e grandes empresários, e nós enxergamos isso agora e por isso somos a bola da vez na área de acusação. Não me arrependo e não vou sair mais desse mercado, porque é um mercado justo, social e que traz benefícos para muitas famílas no País.
Quantos equipamentos há em funcionamento hoje?
Não tenho essa informação para te passar, pois muda toda hora. Mas habilitamos hoje de 5 mil a 10 mil equipamentos por dia.
O Ministério Público Federal investiga na mesma ação uma transferência de recursos entre a BBom e a Telexfree. As duas empresas têm algum tipo de relação?
Nunca tiveram. Nunca houve transferência entre Telexfree e BBom. A Telexfree virou inimiga também não sei por quê. Mas se pedirem minha ajuda, eu vou lá. Nunca tivemos nenhum contato comercial ou financeiro [ com a Telexfree ]. Isso foi plantado para o Minstério Público por esses criminosos dessas empresas sonegadoras.
Segundo o Ministério Público Federal, o senhor já respondeu a processos por crimes financeiros.
É falsa essa a informação. Já fui funcionário de uma empresa há uns anos, de onde eu trouxe o Unepxmil. Eu que implantei processo de rastramento nessa empresa como empregado admitido, [ mas ] os gestores da empresa não gostaram da ideia porque era uma responsabilidade muito grande. E houve algumas pessoas que usaram essa empresa de modo indevido e eu acabei respondendo a um processo junto com os donos, mas que não é nada disso [ crime financeiro ]. De qualquer forma, a empresa está devolvendo todos os valores a todas as pessoas. É um grupo forte e não tem interesse em dar prejuízo para ninguém. Estã fazendo acordo e devolvendo dinheiro. Se houve processo no meu nome, eu já estou respondendo mas indevidamente porque eu não era dono da empresa. Eu não tinha gestão, controle da coisa. Plantaram, fizeram dossiê, falaram que eu era dono.

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