Teixeirinha Alves da Silva
O
CARONA
Ao poeta José Alberto Dantas (Buca)
Polegar em riste, braço em pêndulo,
Antes mesmo do sol, ele já está na estrada.
Destino marcado:
Se soldado, seu trabalho;
Se estudante, sua escola;
Se mendigo, qualquer lugar.
Horas a fios nos quebra-molas,
Recebendo negativas e caretas.
Para muitos, humilhação;
Quanto a ele, festa e entretenimento.
E um automóvel pára!
Enquanto espera, filosofa,
Cria teorias, derruba governos e faz revoluções
(mesmo o mendigo).
Apóia-se nas placas; busca a sombra (qual sombra?!)
Olha o relógio, se o tem, e discute com o tempo.
E um automóvel pára!
Amigo do asfalto; inimigo dos “busões”.
E pensa: “Carona é bom à vista, não à prestação”.
Os táxis o ignoram; os caminhões o temem.
Não suporta chuva ou anoitecer.
E um automóvel pára!
Com fome e sede algumas vezes,
Entende o que significa humildade.
Guarda cada aventura em sua alma
E um pouco de seu passado nas rodagens.
Até que um automóvel pare!
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