Por João Fernando, Julio Maria e Maria Fernanda Rodrigues/AE
fonte: Jornal Tribuna do Norte
O
slogan da gestão lançado pela presidenta Dilma durante sua posse, na
quarta-feira, entusiasmou lideranças de segmentos culturais que
acreditam poder ganhar mais protagonismo. Alguns nomes ouvidos pelo
jornal O Estado de S.Paulo para falar sobre suas expectativas
relacionadas à nomeação de Juca Ferreira para o Ministério da Cultura
citaram a frase de Dilma para justificar cobranças de ações em áreas
culturais. Outros preferiram elencar os desafios de Juca em outras
frentes.
Vice-presidente do Ponto de Cultura
Capão Cidadão, entidade premiada na zona sul de São Paulo que trabalha
com 160 crianças no Capão Redondo, Paulo Magrão tem boas expectativas.
"Entendo que de todos os ministros, embora Dilma tenha demonstrado pouco
caso com a Cultura, era o melhor que se tinha no momento. Depois de sua
saída (na última gestão, em 2010), ficou praticamente tudo parado." Os
pontos de Cultura, uma investida de Gilberto Gil quando ministro, são
organizações com caráter social que trabalham para difundir a cultura em
pontos periféricos do País. Eles deveriam receber verbas diretamente do
Governo Federal, o que nem sempre é uma realidade. A gestão da ministra
Ana de Hollanda (entre 2011 e setembro de 2012) paralisou os repasses e
a de Marta Suplicy os fez de forma irregular. "A pauta da Dilma tem
como slogan a educação, mas como ela vai fazer isso com um ministério
que recebe menos de 2 por cento (do orçamento da União)?"
O
ator e diretor Paulo Betti, um dos administradores da Casa da Gávea, no
Rio, que se tornou ponto de cultura mas que só recebeu repasses uma vez
até que fechou as portas, em dezembro, vê a nomeação "com bons olhos".
"Estou no aguardo de que tenhamos um orçamento melhor e que a cultura
seja valorizada."
Sua proposta: "Deveria haver
um concatenação, um estreitamento de laços entre o Ministério da
Cultura e o Ministério das Comunicações. Hoje, não dá para falar de
cultura sem comunicação No Brasil, você não pode falar de cultura sem a
televisão. O que o Ministério das Comunicações acaba tendo uma
influência grande sobre a Cultura."
Funcionário
do próprio MinC, Fabiano dos Santos Piúba, diretor do Livro, Leitura,
Literatura e Bibliotecas, avalia: "O lema anunciado pela presidente
Dilma poderá ser um grande mobilizador para essa agenda, considerando
que uma pátria educadora passa pela construção de uma nação de leitores
autônomos, livres, críticos e inventivos".
Na
música, Paula Lavigne, presidente da Associação Procure Saber, tem
expectativas favoráveis. Sobre as novas leis que regem o Ecad, o
escritório encarregado de arrecadar e distribuir direitos autorais no
País, ela diz: "A lei já está sendo aplicada em parte. O que depende de
regulamentação foi discutido no MinC, em um grupo de trabalho do qual
nós participamos como colaboradores. Acreditamos que ela será aprovada
pelo Juca e entrará em vigor o quanto antes." A previsão é de que o Ecad
passe a ser fiscalizado por um órgão ligado ao MinC.
Outro
ponto que deve voltar a ter atenções de Juca é a Lei Rouanet. O
ministro não gosta dos mecanismos de hoje e já começou um processo para
mudá-los em sua primeira gestão. As verbas provenientes de isenções
fiscais, para ele, acabam ficando nas mesmas mãos (sobretudo no
Sudeste). Paula, que representa mais de 100 artistas associados, diz o
seguinte: "Nós também achamos que a Lei Rouanet precisa ser revisada,
não só pela questão da concentração no Sudeste, região de maior presença
do mercado cultural brasileiro. Mas a Lei não é uma espécie de
‘bolsa-cultura’ para produtores e artistas. Existe a expectativa de
retorno de marketing. Então, eu diria que não é surpresa que (as verbas)
estejam concentradas nesta região, o que não diminui o potencial da
produção cultural do resto do País. Como presidente da Associação
Procure Saber, posso assegurar que vamos querer acompanhar de perto as
questões que interessem aos autores e artistas."
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